BATENDO ESTRIBO
Laço bom e Mulher Bonita, Assim Sou Eu, Bailanta dos Bichos, Sete Furos, Ensarjetado e Macaquice.
Garanto a todos que este Cd não foge das caractristicas do Velho e conhecido Mano Lima, pois sua Gaita de botão não perde o compasso.
LAÇO BOM E MULHER BONITA
Mano
Lima / João Barros / Peraque
Vanera
E
cantando em rodei eu tenho vista de tudo
Mulher
linda com homem feio e magra com barrigudo
Não
me dou com o alheio com as casadas não me iludo
Potranca
não bota freio nos beiço desse cuiudo
Tem
uma coisa que eu guardo gravado me meu pensamento
Mulher
é igual a pandorga que se vai embora com o vento
Bala
trocada não dói isso não tem fundamento
Quem
já perdeu acredita
Laço
bom e mulher bonita não se deixa em acampamento.
Digo
isso por esses dias me roubaram um belo laço
Eu
cantava pra um sujeito que tinha dinheiro aos maços
Só
por eu ter me descuidado terminou meu casamento
Ela
se agradou de um carro, fazenda e apartamento.
Só
me deixou um piazote cheio de mal e ranhento
As
vezes o azar te visita
Laço
bom e mulher bonita não se deixa em acampamento.
Quem
escutou essa letra analise atentamente
Se
anda meio descuidado comece agir diferente
Não
se lembre do dentista só quando doer o dente
Coloque
as barbas de molho
Pois
tem sempre alguém de olho nas coisas boas da gente
Bala
trocada não dói isso não tem fundamento
Quem
já perdeu acredita
Laço
bom e mulher bonita não se deixa em acampamento.
MANO LIMA.COM
Rodrigo
Bauer – Amigo Souza
Vanera
Nunca
pensei que eu ia ter um computador
Mas
a vida de cantor nos obriga a algum floreio
Eu
que não frouxo nem com praga de madrinha
Comprei
um dos de malinha pra carregar nos arreios.
Diz
que o perigo é de pegar algum
Que
mandam pros bobalhão pra baixar o tal de PC
Eu
tenho o pó de gafanhoto e o velho flites
Se
acaso eles me visitem logo vão se arrepender.
Já
mando e-mail, no twiter eu tô bem bom
Meu
endereço Mano Lima.com
Em
alguma coisa ainda me perco e me atrapalho
Meu
compadre João Sampaio me socorre se puder
Ele
me disse que a internet é uma teia
Eu
a gente campereia do Japão ao Mbororé.
Dos
bichinhos um deles já tá bem manso
Pro
rato não dou descanso sem de noite ou de manhã
A
pobrezinha da outra é que me apavora
Não
bota o nariz pra fora a tal de memoria RAM.
DE TRAZ PRA DIANTE
Mano
Lima
Rancheira
Comprei
um tacho pra fazer melado
E
não tenho um pé de cana plantado
Fiz
mangueira grande e banheira de nado
E
não tenho nenhuma cabeça de gado.
Fiz
tudo isso por que sou do contra
Não
acompanho, mas não sou berrante
Como
quem laça terneiro novo
De
laçada grande de traz pra diante.
Uso
corda forte igual meu tutano
E
não acompanho nem o meu avô
Escondo
a cabeça atrás da paleta
Pra
ver o estalo do chinchador.
Não
é por falta de sabedoria
E
nem por falta de conhecimento
Conheço
até o cego dormindo
E
o homem que laça só no agarrar o tento.
A
mim o mundo não leva
E
nem a vida vai me lavar
Embora
fosse pelado por ela
Mas
nunc apode me derrubar.
Não
tenho nada e também nada quero
Mas
conquistei um espaço no vida
Agora
sim eu levanto as mãos
E
caio no pealo da china querida.
RECREIO
Mano
Lima – Zé Barbosa
Vanera
Sou
vertente de água pura, sou sentinela do pampa
Eu
sou tropeiro que acampa enquanto a tropa descansa
Sou
o progresso que avança na direção do futuro
Eu
sou o minuano puro cabrestiando uma esperança.
Tal
qual a velha Missões que Sepé glorificou
Um
pouco do que restou deste caudilho imortal
Sou
o escarcéu de bagual bem no alto da coxilha
Eu
sou mais um farroupilha buscando seu ideal.
Pra
quem não sabe quem sou, sei que meu verso dirá
Minha
matas tem mais verde, mais prata tem meu luar
Querência
flor de querência, lindo lugar pra morar,
Rincão
que a natureza chamou de Maçambará.
Sou
campo de pasto verde, do salso e do gerivá
Sou
o canto do sabiá, recreio de boa aguada
Sou
grito do mão pelada lá na costa do banhado
Sou
presente, sou passado, sou clarim da madrugada.
Sou
a querência mais nova que a geografia pariu
Ventada
de chuva e frio pelas mãos da natureza
A
fauna é minha riqueza, a cultura é meu estudo
Na
plantação tenho tudo, fartura e pão sobre a mesa.
ALPARGATA BIGODUDA
Mano
Lima
Vanera
Uma
alpargata bigoduda e furada no garrão
Me
tropeando com malesa, é braba minha situação.
O
fogão custa dinheiro pra poder fazer fumaça
Eu
tô igual custo lebreiro aparecendo a carcaça.
Bateu
a peste da rã nas pobres das minhas panelas
Rec-rec,
rec-rec, me aparece o fundo dela.
Minha
mulher já anda braba, diz que não presto pra nada;
Quer
me empurrar goela abaixo esse tal de viagra.
Mas
eu não sou índio otário e ainda não tô louco
Eu
só sei que isso além de caro levanta um e derruba o outro.
A MULHER E O CAVALO
Mano
Lima – João Sampaio
Vanera
Foi
andando pelo mundo do jeito que o gascã quer
Eu
descobri muita coisa entre o cavalo e a mulher
Mulher
feia meu parceiro mesmo confiando a quadrilha
É
como cavalo aporreado, ninguém gaba, nem encilha,
Mulher
ciumenta amigaço por mais que seja prendada
É
como cavalo torto sempre arisco e desconfiada.
Mulher
rica e querendona e parelheiro enjardeiro
Todo
mundo elogie e cobiça pra por o arreio
Mulher
braba e caborteira perece jaguatirica
É
como matungo queixudo nega o freio e adeus tia chica.
China
que da faladeira passa o dia matraqueando
É
cavalo de mascate anda vendo e comprando.
Minha
mulher me deixou, cavalo roubaram um dia
A
mulher não tem problema, cavalo é o que mais queria
Cavalo
custa dinheiro e mulher não me faltaria.
A
mulher desaforada por mais que tenha respeito
É
como pingo coiceiro tem que se chegar com jeito
Mulher
solita sem dono, bonita não perde a vasa
É
cavalo de tropeiro desses que não para em casa.
Mulher
sarnenta e dengosa e cavalo passarinheiro
Abre
o olho meu irmão, sempre alerta companheiro
A
mulher namoradeira de vereda ela se entrega
É
igual matungo sogueiro em qualquer campo se pega
Mulher
prenha e barriguda é como cavalo sião,
Anda
com a chincha do sovaco e sempre perdendo o chergão
Mulher
que logra o marido isso aprendi as duras custas
É
igual bagual caborteiro de qualquer cosia se assusta.
Minha
mulher me deixou, cavalo roubaram um dia
A
mulher não tem problema, cavalo é o que mais queria
Cavalo
custa dinheiro e mulher não me faltaria.
BAILANTA DOS BICHOS
Mano
Lima
Marcha
Quem
é aquele moço de chinelo grande
Que
elegante caminha é o pato, é o pato
Disse
a angolista
Assim
deste jeito para a galinha
O
marreco mui debochado
Deu
uma risada assim qua, qua, qua
O
pato não é de nada,
Ele
é só elegante pra caminhar.
O
sapo porteiro do baile
Cuidava
os cascudos pra não deixar entrar
Pra
manter a sua fama
Engolia
cascudama pra não incomodar
O
perdigão vinha da chácara
Com
os pés sujos não pode dançar
Cravava
o bico no chão
Eu
sou o perdigão e pegou assobiar
O
avestruz índio campeiro,
Só
vendo o entrevero fazia um hum;
Vendo
que o baile dos bichos
Ia
dar reboliço, ia dar sururu
Mal
a cigarra abriu o peito
E
um certo sujeito já se apresentou
O
gamba com a boca azeda
Quis
beijar a galinha e o galo não gostou
O
porco já virou a mesa
E
foi pra cozinha e o veado disparou
O
zorrilho com a cola erguida
No
meio da sala em muitos mijou.
O
sapo vendo a coisa feia,
Marimbondo
e abelha que passam pra adiante
Escorado
no baldrame
Dizia
pro enxame gurizada avancem
Foi
um entrevero danado
Quando
o vespado entrou no salão
Abelha
e marimbondo preto
E
daqueles vermelho é brabo o ferrão
Deu
um esparramo de bicho,
Até
o pobre do ouriço pegou se bailar
Ficou
só o gaúcho grilo
Tenteando
um violino atrás do sofá
MACAQUICE
Mano
Lima / Ricardo Lima
Bugio
Eu
tava na Argentina num aguapé pescando
Cheguei
no acampamento tinha um bugio se aquentando
Lhe
ofereci um chimarrão no que aquentou a cambona
Me
fez sanha que não e me pediu uma carona.
Então
pensei comigo vou levar este macaquito
Porque
lá no Brasil nós vamo fazer bonito
Vamos
cantar em inglês, em Barretos no Cowboys
E
para os gauchinhos vamos hablar em espanhol.
Vamos
cantar as missiones e la siera tambien
Vamos
hablar em espanhol ao puevo que eu quiero bien
Mas
foi no meio do rio que o bugio me surpreendeu
Me
disse como é bom a gente vim pra onde nasceu
Mas
afinal quem é tu, de onde tu vem vivente
Eu
sou de São Francisco, brasileiro e rio grandense.
Esse
macaquinto me empunhou bonito
Porque
el macaquito era brasileirito.
Esse
macaquinto me empunhou bonito
Porque
el macaquito é brasileirito.
DOM FERMINO
Mamo
Lima / Rodrigo Bauer
Chamarra
Dom
Fermino olha pra vida com seu olhar penetrante
Vai
contemplando os detalhes do que conhece bastante
Por
ter vivido contente cada nuance e matiz
Sabe
que o homem mais sábio não passa de um aprendiz.
Esquenta
a água pro mate no seu galpão fumacento
Enquanto
cuida a cambona vai campereando por dentro
Precisa
dessas quietude e dos punhais que ela crava
Pois
sabe que no silencio cabe todas as palavras.
Dom
fermino afia a faca e desquina tentos parelhos
Nem
que lhe peçam bastante, jamais arisca um conselho
Vai
trançando laços fortes que aguentam uma polvorosa
Na
trança usa a saliva que economiza na prosa
Ainda
encilha o cavalo, enverga a pilcha completa
E
a barba branca lhe empresta um certo ar de profeta
Será
humano eu pergunto que tanta luz erradia
Parece
um bruxo campeiro, guardião da sabedoria.
É
desses homens de antanho sempre atalhado a facão
Estão
desaparecendo frente à globalização
Respira
a filosofia, faz da ética a verdade;
Sem
nunca ter se sentado num banco de faculdade.
Dom
Fermino é da fronteira, olhar de pampa e de serro
É
mescla do velho Braun Nunes, com algo de Martin Fierro
Das
rugas vergas de arado, arroios nas cicatrizes
E
uma gente se forjada com raças de três países.
Conhece
os jujos do campos entende os males e curas
Domina
as voltas da lida mesmo em qualquer por ventura
Não
se arisca no serviço, nem facilita o perigo
Sabe
que tudo que é vivo carrega a morte consigo
Dom
Fermino não se espanta, a força vem lenhadita
O
tempo atrasou seus passos parceiros das alpargatas
Nenhum
tropeço-lhe assusta, ninguém lhe faz inseguro
Quem
não arrelha o presente, não teme o próprio futuro.
NO RANCHO CORAÇÃO
Mano
Lima / João Sampaio
Chamarra
Deus
após criar o mundo ficou pensando ao matear
Em
que rincão escolher um ranchito pra morar
Depois
de muito pensar solito na madrugada
Em
cada coração humano se arranchou e fez morada.
Não
deixa tua pessoa campear deus só quando chora
Visite
ele diariamente, não somente nesta hora.
Não
siga falsos profetas que vendem ele aqui fora
No
rancho do coração, dentro de ti que ele mora.
Siga
o sinuelo do bem, derrame onde for seu unto
Para
que o homem e poder um dia ainda viavam junto
Lute
por um mundo justo sem ganancia ou mexerico
Onde
o pobre deixe de ser dominado pelo rico.
Por
isso eu falo com deus diariamente lado a lado
Num
mundo já carcomido pelo cupim do pecado
Falado:
Não
me venha com lorota de bruxa e de lobisomem
O
pecado é sempre o mesmo embora tenha vários nomes;
Como
dizia um paisano que por teres sede e fome
Que
viu as desigualdades de cascatas e sobrenomes
Não
tenho conta com deus, minhas contas são com os homens.
MARIA FUMAÇÃ
Mano
Lima / Olgi Zauza Krejci
Toada
gaúcha
Quando
vejo uma criança no encanto dos folguedo
A
arrastar tem de brinquedo ao logo de minha rua
Me
vem a imaginação feito uma onda que passa
Da
velha Maria fumaça cruzando as coxilhas nua
Lembro
bem da caixa d’água, da linha sob o dormente
Do
vagão carregando gente, vagão que vai e que vem.
Sonhei
ser chefe de trem pra ouvir barulho e apito
Ter
um uniforme bonito que nenhum sultão o tem.
Dói
tanto a recordação, como é triste uma lembrança
Quando
se perde a esperança e não se tem pra onde ir
Nas
águas da evolução na pre-potência e do berro
Mataram
a estrada de ferro e dos meus sonhos de guri.
Tudo
em volta esta deserto parece não ser verdade
Só
restou uma saudade do que não pode ficar
A
estação do Mbororé foi no ultimo vagão
Os
arreios deste peão para nunca mais voltar.
Quando
vejo uma criança no encanto dos folguedo
A
arrastar tem de brinquedo ao logo de minha rua
Me
vem a imaginação feito uma onda que passa
Da
velha Maria fumaça cruzando as coxilhas nua
Tal
qual trem madrugador sempre convido meus filhos
Pra
caminhar sob os trilhos na hora do sol nascer
Não
adianta mais chorar sobre o leite derramado
Só
é bom lembrar o passado pra tradição não morrer.
ASSIM SOU EU
Mano
Lima / Ivo José Patias / Amigo Souza
Chamamrita
Já
cresci tenho alguns anos e vivo nesta cidade
Herói
pra mim são meus pais que me amam de verdade
Dão-me
tudo que preciso amo, carinho e atenção
O
meu orgulho por eles eu demonstro na emoção.
Sou
feliz tenho você, sou criança nesta idade
Não
sei mentir, nem fingir tudo que falo é verdade.
Tenho
um jeito diferente, pouco importa, sou assim
Esse
é meu modo de vida e muitos gostam de mim
Valorizo
as amizades, garimpo, outras insisto
Só
não entendo aqueles que ignoram que eu existo.
Sou
gente, sou ser humano deram limite pra mim
Sou
um educando Apaeano foi Deus quem me fez assim
Se
tu entende meu jeito que fazer-te um pedido
Da-me
um abraço apertado e diz sou teu amigo.
SETE FUROS
Mano
Lima / Edilsom Villagran
Vanera
Se
acaso nos fosse um rancho a guincha era uma peneira
Pelos
buracos que temos íamos ter muitas goteiras
Por
que temos sete furos, porem sete especiais
Dois
que cheiram, dois que escutam, um que entra, dois que sai
Meu
rancho não era bom por causa dos vazamentos
Ca
pra nos são necessários todos esses fundamentos
Por
que temos sete furos e os sete fundamentais
Dois
que cheiram, dois que escutam, um que entra, dois que sai
Por
termos nascidos assim não precisamos maia furos
Os
que vivem se furando irão pagar no futuro
Por
que temos sete furos e os sete fundamentais
Dois
que cheiram, dois que escutam, um que entra, dois que sai
Furam
o beiço, a orelha, furam o focinho e a língua
Não
basta os furos a bala que matam muitos a mingua
Por
que temos sete furos, pra nós não precisa mais
Dois
que cheiram, dois que escutam, um que entra, dois que sai
ENSARJETADO
Mano
Lima
Tango
Sei
que te dizem que eu ando pela rua
De
bar em bar, tô bebendo até cair
Não
te preocupe porque a culpa não é tua
A
culpa é toda do que eu sinto por ti.
E
se um amigo te pedir que me levante
Diga
então que vai pensar com carinho
Por
que senão por ti meu grande amor
Me
deixem quieto aqui na sarjeta dormindo
Se
por acaso te encontrar mui borracho
Seja
macho e trate de levantar
Com
certeza me amava e não sabia
E
se soubesse também poderia lhe cuidar.
Não
pense que estou orgulhosa
Mesmo
sabendo que por mim esta bebendo
Pois
se pudera prenderia em meus braços
Este
borracho que de amor esta morrendo.
Quando
um home cai e não levanta
Pode
ir lá que é certo que se machucou
É
na bebida que as magoas a gente espanta
Eu
bebo pra curar a minha dor.
E
se me chamam de borracho não me importa
Não
interessa que de mim irão pensar
Só
quem já sofreu por amor me entende
É
só quem entende de amor pode falar.
PEDRO PAMPA
Mano
Lima
Vanera
O
Pedro pampa era um taura
Crioulo
da Vila Treze que se arranchou no Mbororé;
Tinha
um campito pequeno
Uma
ponta de gado bueno e um touro bravo jaguané.
Amigado
com a Formosina
Uma
Mbororeana de lei das que vem pela fumaça
Tinha
dois gêmeos muchachos
Dois
rapazotes bem macho no ponto de sentar praça.
Foi
bem na entrada do inverno
Que
o Pedro Pampa e a muié foram de trem pra Itaqui
Comprou
um sortido uma cota
Um
poncho e um par de botas pra cada um dos guri;
Enquanto
a mulher descansava
O
Pedro pampa mateava na salita da pensão
Quando
avistou uma cigana
Um
olhar de cobra insana pra embuçalar o cristão.
Meu
filho larga essa cuia
E
abre bem tua mão canhota do lado do coração
De
repente muda e bem franca
A
cigana ficou branca e quase caiu no chão
Perguntou
ao Pedro Pampa
Se
ele tinha um touro brabo do pelo mais lindo que há
Respondeu
que sim, já aflito
Ela
disse aqui ta escrito que o touro vai te matar.
O
padro Pampa era um taura
Que
na rodada da vida sempre correndo saia
Pra
não abusa da alma boa
Não
contou nada a patroa e essa noite não dormiu
Mas
numa certa manhã
Só
os dois a beira do fogo passado mais de semana
De
repente de relancina
Ele
contou pra sua china a previsão da cigana.
A
Formosina era taura
Sabia
tudo da vida mulher guapa e companheira
Disse
ao Pedro sem alvouro
Amanhã
carneamo o touro e tu nem vai na mangueira
A
Formosina e os gêmeos
Tentando
encerrar o gado a grito, cusco e laçaço
O touro soltando fumaça
Com
as aspas de quase braça saio do tronco do laço.
Um
ods gêmeos de vereda
Passou
o laço num cinamomo como seu pai lhe ensinou
Outro
botou numa pata
E
a Formosina mulata já veio correndo e sangrou
Tava
o touro desmanchado
Couro
e carnal pra cima e a cuscada em escarcéu
Na
outra ponta a cabeça
Com
as aspas de lanças afiada como olhando pro céu.
Foi
então que o Pedro Pampa
Deixou
o corpo do galpão e se veio com ar de graça
Pegaram
as guampa dos touro
Pra
dois borrachão de estouro bem lotado de cachaça
A
Formosina e os gêmeos
Lidando
com a carne do touro debaixo de uma ramada
Viram
o Pedro Bavaresco
Resvalar
no couro fresco e se espetar numa aspa afiada.
No
campo santo do Mabororé
A
direita de quem entrada como uma estaca reluz
Num
cerne de currunilha
A
saudade da família nos dizeres de uma cruz
Aqui
jas o Pedro pampa
Um
gauchão do Mbororé que foi tropear no perigo
Com
sua estampa paisana
Pois
como disse a cigana ninguém muda o que esta escrito.
MULHER E BOCA DE ÉGUA
Mano
Lima
Vanera
Mulher
e boca de água não é fácil companheiro
Pois
mais que se saiba tudo a gente esta sempre aprendendo
Eu
tenho levado golpe to com a clavícula quebrada
Não
largo água com areio e nem china mal amada.
A
mulher tem asa e voa na ponta do coração
Égua
com boca quebrada não presta mais meu
irmão
A
mulher tem que ter sorte e tem segredo também
Pois
não é igual a cachorro que a gente chama e se vem
Boca
de água também tem que sabe lidar
Tando
domada vai na boca e não deixa veiaquear.
Tem
três coisas no namoro que eu posso lhe ensinar
A
primeira e enxergar devagar pra não demais
A
segunda de mansinho tente se aproximar
A
terceira tem segredo com carinho ai de apetar.
Falado:
Eu
sou da boca da égua, bagual mas também sei amar
Quando
a gente vai na boca tudo pode se ajeitar
Cantado
:
Coração
tá calejado não tem mais medo de amar
Depois
que o freio faz calo na boca da pra golpear
Não
precise usar abridor, nem de mola pra enfrenar
Atraque-lhe
freio bruto e o segredo ta no enfrenar.
RANCHO DE VIDRAÇA
Mano
Lima
Xote
A
gente somos cada um no universo
Disse
uma prenda no principio de namoro
Eu
disse a ela venho do rio grande velho
Da
tropa alçada e dos índio marca touro.
O
meu bigode ta branco não é do tempo
Bombeia
bem que isso é farinha de mandioca
Eu
me criei só com tutano de chibo
E
galopeando cuiudo com massarote.
Ela
me disse amor tempos melhor aquele
De
circunstância e de principalmente
A
gente tem que manter o nível e a cultura
Pras
criaturas não pisar em rima da gente.
Eu
disse a ela só o que me cruza por riba
É
alguma égua que as vezes plancha comigo
Sai
corcoveando se queixando campo afora
Igual
mulher quando apanha do marido.
E
assim se fomos naquela eca baguala
De
pessigueiroides e de laranjoides
Eu
dando pau tipo bicho em égua porreada
E
o namoro se arrumou bem nos conforme.
CHAMADO
Mano
Lima
Milonga
Recebi
o teu chamado quando me senti agraciado
Com
um abraço apertado de alguém que me amava;
Recebi
o teu chamado
Quando
sai na rua uma criança me abanava.
Recebi
o teu chamado
Quando
não esmoreci com a cruz que carregava
Quando
percebi o teu chamado
Quando
me senti amado por alguém que me escutava.
Recebi
o teu chamado
Então
fiquei maravilhado e não deixei cair no chão
Era
Jesus que me sondava
Era
o amor que me ensinava abrir meu coração.
MARAGATOS E CHIMANGOS
Mano
Lima
Chamamé
Com
um par de esporas e um par de botas garrão de potro
Foram
crescendo um de um lado e outro do outro.
Um
maragato de cruz na testa federalista
E
um chimango republicano que era borgista.
Mas
enquanto a guerra dormia e sonho crescia nos Mbororeano
Que
brincavam todos os dias na sua infância fazendo planos
Mas
o destino maleva os dois estava cuidando
Pra
quando crescessem seguisse o clarim e a voz de um comando
Veio
a revolta e lá se foram os dois soldados
Dois
amigos que como irmãos tinham se criado
Lhe
toparam de cara a cara e de frente a frente
Dois
valente, mas que nunca tinham brigado.
Foi
numa noite de tormenta e de chuva forte
Que
se toparam as duas forças em duras naus
Numa
invernada de boi criado e caborteiro
Que
apartou o entreveiro disparando com o temporal.
E
foi nesta noite que se toparam os dois teatinos,
Bem
no lugar onde o destino marcou
E
o pai de um deles que peleava ao lado do filho
Disse
vamos embora tu não vê que a tropa recuou.
Desculpe
pai um homem morre, e não recua;
Vai
com a tropa que eu vou ficar com o que tu em ensinou.
Por
serem taura os dois gaúchos era arrojados
Se
rebelaram pela garupa do cavalo.
Peleavam
brincando igual dois capinchos na enchente
Dois
rio-grandenses um lenço branco e um colorado
Conhecer
as coisas só nos ajuda livrar do perigo
Prestar
atenção pra mesmo na guerra não ser bandido.
O
chimango viu o seu lenço branco ficar tingido
Com
o sangue do corpo por que já vinha vindo ferido.
Percebeu
então quer a amizade é mais que um partido
Largaram
as armas e se abraçaram os dois amigos.
PELO DURO
Mano
Lima
Vanera
Na
função ninguém me bate e a rédea é uma balança
Foi
feito pra combate com qualquer soga levanta
Se
escarrapacha e até bate
Com
os quarto no chão e não plancha.
Corre
as crias da manda e o crioulo não refina
E
numa volta apertada esmaga e cruza por cima
Rio
grande não foi herdado, mas conquistado em teu lombo
Com
a fibra do gaúcho e rio-grandense esse teu dono.
Se
eu pudesse eu fazia um monumento ao cavalo
Em
tudo que era cidade e na capital do estado;
Cavalo
crioulo é forte e o rio-grandense é guapo
Peleando
de sul a norte na guerra dos farrapos.
Cavalo
crioulo é bom puro e cruzado também
Com
inglês por exemplo da campeiro meu irmão
Corre
boi o dia inteiro
Abre
as ventas e tem pulmão
NADA VEZES NADA
Mano
Lima
Chamarra
Há
uma espécie de veneno que nos vai destruindo
É
tropa que vai armada, olha a droga no caminho
E
a humidade assassinada pelo punhal do homicídio
Parece
não valer nada o que deus confiou a seus filhos.
Pros
bichos Deus deu o cio e a natureza controla
Pro
homem a inteligência e por aí que a coisa embola
Virou
raça igual guara disparando dos cachorros
Perdido
pensa em voltar grita e pede socorro.
O
cachorro e o mendigo se encontram na maleza
O
homem é um animal pela própria natureza
Só
se hermana e se abraça quando encontra uma desgraça
Sem
saber que o maior mal e destruir sua própria raça
Cidade
constrói princípios, princípios constrói costumes
Fica
nada vezes nada para a nossa juventude
O
mundo foi, mas o homem, o homem ainda não
Quem
vai pra frente sem base é somente o tropicão
Já
dizia o grande poeta e com muita precisão
Que
se pudesse eu volta pra o velho mundo cristão
Longe
da tal internet e dessa tal televisão
Perto
da felicidade e com paz no coração.
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